Segunda-feira, 3 de Outubro de 1910Assassinato de Miguel Bombarda00615

«O Dr. Miguel Bombarda foi alvejado a tiros de revólver por um louco que hoje o procurou em Rilhafoles, tendo recolhido ao Hospital de S. José em estado grave. O povo de Lisboa está convencido de que o assassínio foi obra dos clericais» - assim foi anunciado na sucursal de O Século no Rossio o homicídio do famoso médico alienista, director de Rilhafoles, dirigente e deputado republicano e um dos principais impulsionadores da Junta Liberal que encabeçara as campanhas anti-clericais que, especialmente desde 1909, marcavam a vida política e social. Foi assassinado por um oficial do exército, antigo aluno dos colégios da Companhia de Jesus.
Transportado para o Hospital de S. José, foi operado, "depois de ter mandado queimar à vista uma carta que trazia na carteira" e falado com
Brito Camacho, mas não resistiu à operação, entrou em coma e faleceu cerca das 6 da tarde.
Miguel Bombarda, membro da Comissão de Resistência da Maçonaria, era um dos principais dirigentes da revolução republicana em marcha, com o especial encargo de proceder à distribuição de armas por grupos civis, estando prevista a sua participação no assalto ao quartel de Artilharia 1 em Campolide.
A morte de
Miguel Bombarda provocou especial indignação junto do povo de Lisboa, para quem se tratava de um "atentado reaccionário", registando-se alguns incidentes na Baixa, em que populares, a que se juntaram marinheiros e soldados, perseguiram e tentaram agredir alguns padres.
O Presidente do Ministério,
Teixeira de Sousa, foi ao Hospital de S. José apresentar condolências. Ao deparar-se com a ausência de quase todos os amigos e correlegionários de Miguel Bombarda, suspeitou de que alguma coisa se preparava e logo insistiu com o Quartel-General para que fosse ordenada rigorosa prevenção a todas as unidades militares.
No Palácio de Belém, onde o Presidente eleito do Brasil, Hermes da Fonseca oferecia um jantar ao rei, Teixeira de Sousa terá avisado
D. Manuel de que "a revolução vai rebentar esta noite"
Enquanto o chefe do protocolo, Batalha de Freitas, suprimia pratos no jantar "para aquilo acabar mais depressa". Por fim, D. Manuel regressa às Necessidades, escoltado pelo regimento de Lanceiros 2.
ano:
1910 | tema:
Violência (política)